Em defesa do Programa de Braços Abertos
Em entrevista ao Instituto Silvia Lane, a assessora do programa na Prefeitura de São Paulo, Lumena Furtado, conta como o De Braços Abertos tem permitido aos usuários refazer seu projeto de vida e descreve a luta para defender a iniciativa  
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ISL - O que o programa DE BRAÇOS ABERTOS  trouxe de novo para o campo da abordagem e cuidado das pessoas em uso abusivo de álcool e drogas?
O ponto central é a radicalidade com o que o programa aposta na redução de danos e no cuidado em liberdade. Outros dois aspectos merecem destaque. A moradia como porta de entrada é um diferencial que tem nos desafiado a criar novas estratégias de cuidado. As pessoas chegam em situação de extrema vulnerabilidade e ter onde morar tem se mostrado um dispositivo fundamental para possibilitar o início da construção do projeto terapêutico individualizado. O acesso ao trabalho e a rede de cuidados permite costurar um projeto de cuidado mais integral e a avançar na única perspectiva que é realmente terapêutica para cada um: refazer seu projeto de vida!
 
ISL - O Programa parece bastante próximo à perspectiva que a Psicologia, hoje, defende. Como você vê esta questão?
Com certeza ele está bastante sintonizado com os pressupostos de uma psicologia crítica e comprometida com a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, com a valorização do respeito às diferenças na produção das subjetividades. Toda a rede de cuidados, dentro dos hotéis, nos territórios, nos serviços de saúde conta com um número importante de psicólogos trabalhando. É muito bom ver a psicologia assumindo este desafio de construir novos dispositivos de cuidado, nesta perspectiva, em uma área marcada por tanta disputa  de modelo.
 
ISL - Há resultados já indicados que possam afirmar a importância e o sucesso do Programa em São Paulo?
Sim, nosso cadastro único traz números muito importantes. Reporto alguns que dão uma ideia de como o programa esta ajudando a mudar as pessoas a mudarem suas vidas: 84% referem ter diminuído o uso do crack, 54% retomaram os vínculos familiares, 86% que não tinham documentos conseguiram regularizar, 69% aderiu a alguma frente de trabalho e o dado mais importante: 64% referia ficar todo o dia sob efeito da droga no início do programa, hoje 55% referem ficar pouco tempo sob efeito da droga. Isto permite que outros desejos ocupem seu dia. É a redução de danos ajudando na ampliação da vida!!
 
ISL - Há riscos do Programa ser substituído em São Paulo por outro Programa?
O prefeito eleito disse que vai acabar com o Programa mas esperamos que seja pela falta de oportunidade de se aprofundar sobre os dados e  sobre a rotina do Programa. Estamos à disposição para apresenta-lo ao grupo de transição. 
 
ISL - O que desponta como outra proposta? Qual sua avaliação desta proposta?
A proposta apresentada como alternativa é o Programa Recomeço do governo do estado que trabalha numa lógica muito diferente, que é da abstinência como alternativa única para todos os usuários e a internação em serviços fechados como manicômios e comunidades terapêuticas como central na oferta de cuidados. Ou seja, é uma perspectiva muito diferente da que orienta hoje o DBA, não tem como juntar os dois programas em um só. 
 
ISL - Como está sendo defendido o Programa?
Está sendo muito emocionante ver a movimentação dos usuários na defesa do Programa e muito forte dividir suas angústias com a possibilidade do término. Eles acompanham as falas da equipe de governo e se preocupam, se organizam, escreveram mais de 60 cartas para o Doria, estão organizando mobilizações... Também os trabalhadores e dezenas de entidades como o próprio ISL, o CRP-SP, CFP, SindPsi, entidades de DH, universidades, movimentos sociais como o de moradia, Ministério Público, Defensoria Pública, Juizes pela Democracia, áreas cultural e de artes, Frente Antimanicomial, entidades nacionais e internacionais ligadas á área de álcool e drogas... enfim um conjunto importante de atores estão se manifestando e chamando atos variados em defesa do DBA. 
 
ISL - E você, Lumena, que assessora este programa, qual seu futuro profissional em São Paulo? Você deverá se inserir onde no serviço de saúde? Sua experiência com o De Braços Abertos será aproveitada? 
Esta é uma pergunta que ainda não sei responder. Só sei que até 31 de dezembro estarei com esta valorosa equipe que toca o  DBA. Onde continuar a luta depois, ainda está em aberto.